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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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30 de novembro de 2009

Mensagens

Mea culpa... fazem quase 6 meses que não posto nada aqui e as razões são muitas. É claro que nenhuma é uma desculpa aceitável, pois passei muitas horas procrastinadas em frente ao computador e que poderia postar algo para meus leitores. Mas acho que tem a ver com minha vida recente e os meus 40 anos que se aproximam no próximo ano.

Em junho último fiz uma cirurgia metabólica, na qual reduzi meu estômago e fiz um bypass no intestino. Estava pesando 140kg, pré-diabético, com esteatose hepática e um pequeno problema cardíaco. Quase 6 meses depois já se foram 35 kg, minha diabetes desapareceu e meus exames nunca estiveram tão bons. Deveria ter feito antes, mas acho que minha cabeça misturado com concepções errôneas não me permitiram.

Toda vez que pensava em fazer a cirurgia alguns pontos me vinham a mente, tais como vaidade, egocentrismo e uma sensação avassaladora de incompetência. Sim, incompetência... afinal eu poderia fazer um mega regime, correr, fazer musculação e tudo ficaria bem, eu só precisava de força de vontade. Só que lá no fundo eu sabia que não tinha essa força e isso me deixava decepcionado. Ora, tanta gente consegue...

E ainda tinha a parte da vaidade. Será que devemos nos submeter a uma cirurgia somente por vaidade? Mas e se, se ela, nosso corpo padecer? Não estaríamos jogando a valiosa oportunidade de sermos seres humanos pelo ralo?

Tudo isso bagunçou minha cabeça. Acho que nunca os ensinamentos budistas, ou melhor, minha compreensão sobre eles, me atrapalharam tanto na vida. De um lado, queria ser um "bom budista" e por outro lado, morria de vontade de vestir uma calça 46 (vestia 62) e comprar uma camisa social numero 5, além de ter disposição para voltar para o jiu-jitsu e para curtir melhor a vida.

Bom, tomei uma decisão radical para depois compreender o que e como havia feito. Mandei minha concepção budista para o inferno e me operei. Pastei na mão de vários maras, tive infecção hospitalar, depressão profunda e houveram dias que me arrependi totalmente do que havia feito.

Mas hoje, estou bem e feliz por ter feito, embora não goste de lembrar meus 10 dias forçados de hospital. Também compreendo melhor que minha atitude foi a melhor a ser tomada. Não sou infalível, não sou perfeito, se fosse não comeria tanto e faria mais exercícios. Se fosse, teria a tal "força de vontade", mas não me envergonho mais disso. Eu estava com pensamentos muito radicais, pensamentos não de um budista, mas de um aspirante a Buda, coisa que ainda nem posso me dar ao luxo.

Sendo assim, sou um ser humano normal. Disposto a ser salvo pela Compaixão de Buda e sabendo que com 140 ou 100 kg tenho as mesmas chances que qualquer outro.

Se vou viver mais, melhor e disposto a continuar minha senda pelo Samsara, está valendo. Não podemos radicalizar nem tentar ser o que não somos. Temos que entender as mensagens que o mundo nos envia e não temos que ficar supondo que há um texto oculto nelas, um código que temos que buscar a chave dentro de nós. A prerrogativa de quem manda a mensagem é que ela seja clara, se está confusa, não nos culpem.

Namo Amida Butsu

2 comentários:

  1. Oi Mau,

    até os 49 anos é uma maravilha, td flui...tu vais ver qdo entrar na casa do meio século...dói td, as entranhas, os ossos...pqp...rs... estou começando a achar que ao meio sec. mais 10 é um pouco pior...estou vendo gente querida desistindo, jogando a toalha msm....acho, acho não estou começando a ter certezas que a velhice é a pior fase, muito pior que a morte...mas essas coisas só se aprende e apreende vivendo-as...eu devia ter prestado mais atenção nisso, qdo li dá primeira vez o básicão de Budismo...rs....mas me faltavam bem uns 15 anos ainda..então achei que " A vida é Bela"...filminho ilusório, acho que só eu na época não gostei...dessa fábula-ilusória....rs

    Fico feliz por vc ter feito uma escolha,e por ter feito valer seu desejo...nem falo em mais qualidade de vida, isso é discurso para redimir explorações ( seja onde for, empresas etc...etc...) mais penso na qualidade da experiencia, no processo em si...claro que td tem um preço, em geral queremos dar saltos e pular as partes ruins, ou não tão boas do processo, como se isso fosse possivel. A vida cansa de nos ensinar que não há almoço de gratis, seja no curto, médio ou longo prazo...Parabéns pela coragem e ousadia, sei o que é o sofrimento de quem tem transtorno alimentar ( ouvia grupos, qdo fazia clinica)..imagino tb como vc teve que encarar perguntas de cobranças, frustações de obesos que não ousam fazer nada para si...invejas etc..e tal...escute isso não, escute vc, seu coração, seu corpo, é isso que conta na " qualidade da experiencia"...

    Força ai...e manda ver no blog, aqueles textos-reflexões shin profundas, consistentes que vc sabe fazer, sem perder a suavidade a leveza e delicadeza...

    Abração e Parabéns pelos riscos ( a vida não nos dá garantia alguma, nunca e de nada, é só pensar em interdependencia, causa e condições e por ai vai...)o que conta é a qualidade da experiencia, que só sabemos a posteriore...na torcida.

    ana

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  2. Maurício,


    Meio século é ainda melhor do que quarenta anos, quando se vai deixando o excesso de bagagem no chão [expectativas, frustrações, auto-idealizações e outras falácias].



    Os maras [e seres afins] sempre quererão achincalhar qualquer esforço: meu, teu, nosso. É a parte que lhes cabe. Se nos dispensam tanta atenção, aproveitemos como pontos de apoio para nossas descobertas, e ofereçamos os méritos disso também a eles. Num primeiro momento, eles não irão sorrir...





    Um grande abraço, e melhoras.







    Namo Amida Butsu.





    Marcelo.

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