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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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14 de outubro de 2011

A Fé Move Montanhas?

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"Como aplico isso na minha vida diária?" - invariavelmente essa pergunta aparece em qualquer palestra ou em qualquer contato inicial com as doutrinas budistas por pessoas que se maravilham com o assunto.  Acho interessante essa pergunta, pois me parece intrigante que não consigamos ver como podemos viver melhor e proporcionar uma vida melhor aos nossos e ao próximo. 

A última resposta que dei, na minha última aula de Budismo para crianças (e alguns pais) foi: "Você continuou a fazer compras na Z*** (loja de roupas) depois do escândalo dos trabalhadores escravos?", a mãe respondeu que sim, então disse a ela que essa não era uma atitude budista. Que aplicar os conceitos de "estar presente" passava por sobrepujar o consumo desatento pelo consumerismo! Continuei... "Você olha nas latas de atum se está presente o selo "dolphin safe" ou simplemente compra pelo preço?"... usei exemplos de consumo para ficar mais perto da realidade deles... mas também tentei mostrar que a "Atenção Plena" pode ser exercitada em situações das mais comuns.

Então tenho visto o movimento Occupy Wall Street. No qual centenas de pessoas ocuparam a Liberty Square (nome bem apropriado) para protestar pela desigualdade economica nos EUA e no mundo.  A priori um movimento sem pé, nem cabeça (literalmente pois não há líderes), sem polarização política, sem proselitsimo e, principalmente, sem violência que protesta não se sabe bem pelo o que. Contudo creio que entendo o porquê desta manifestação: é a sensação de que algo está errado!. A sensação que o mundo está fora de equilíbrio (dukkha - A Primeira Nobre Verdade). A sensação de que algo tem que ser feito. O OWS é nada mais nada menos que um basta!

Como Gandhi, essas pessoas que são em sua maioria desempregados, vítimas da crise americana provocada justamente por uma guerra estúpida e desnecessária no Iraque, começaram a criar uma irmandade, uma comunidade, na qual todos se ajudam e que incomodam os mais poderosos porque não dão motivos para serem tirados dali. Não sujam o parque (criaram grupos de limpeza que se revezam), não destroem patrimonio público ou privado, não obstruem as ruas e não geram violência, alias a combatem pois evitam assaltos a pessoas e comunicam à polícia qualquer tentativa de tráfico de droga dentro do grupo. Não dão chance às autoridades para tirá-los de lá. E a presença deles incomoda e incomoda muito, pelo simples fato de estarem ali e terem apoio de toda a maioria (99%, segundo eles!) da população, pois protestam justamente contra os 1% mais ricos do país.

Em artigo do jornal eletrônico, The Huffington Post, a monja Joan Halifax cita Thich Nhat Hanh, "não acumule riqueza enquanto milhões tem fome. Não faça da meta da sua vida a fama, o lucro ou os prazeres sensuais. Viva de maneira simples e divida seu tempo, energia e recursos material com quem necessita.  Pois bem, de uma maneira ou de outras esse grupo está fazendo isso e está cobrando que o executivos o façam também. 

Talvez mesmo sem saberem estão exercitando a compaixão, a atenção plena e o altruismo ao mesmo tempo que combram as mesmas coisas de quem deveria prover em primeiro plano.  Tais atitudes até agora se mostraram muito budistas, mesmo sem saberem ou quererem. 
Montanhas não serão movidas pela fé dessas pessoas, as montanhas não são movidas pela fé, elas são transformadas pela fé (que fé fique clara como a manifestação da Verdade, da Sabedoria e não uma fé dogmática).  Um movimento como OWS é um movimento de fé estruturada, focada e com objetivos não-materiais, objetivos de atitude e ação.

Quando você perguntar o que fazer no dia-a-dia para ser budista, lembre-se da OWS e seja consciente do mundo a sua volta e seja uma voz, uma ação, não seja um ignorante (aquele que ignora!), veja, compreensa e aja. Coloque sua opinião, tome partido, defenda quem deva ser defendido.  Seja justo, mas não julgue! 

Nas palavras de Shantideva:



"Que eu me torne um protetor para os desamparados,
Um guia para os que andam pelas estradas
E, para os que querem atravessar as águas,
Que eu seja um barco, um navio ou uma ponte.
Que eu me torne uma ilha para os que buscam terra firme,
Uma tocha para os necessitados de luz,
Um lugar de repouso para os que assim almejam
E um servo para quem precisa ser servido."


Namo Amida Butsu!