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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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4 de dezembro de 2012

Como identificar um culto budista nocivo

Por Upasaka HL Wai, O Canal budista, 02 de julho de 2007

Kuala Lumpur, Malásia - Como qualquer grande religião no mundo, o Budismo também tem seu quinhão de cultos nocivos. Não importa se o líder é chamado de Guru, Rinpoche, Sifu ou Bhante, desde que haja tendência de usar e abusar do Dharma para ganho pessoal, como obter seguidores com intuito de alimentar o ego do líder ou sua excentricidade, cultistas sempre irão existir. Cultos também irão prosperar enquanto houver seguidores que se deixam ser enganados, estejam eles cientes disso ou não.

Um culto¹ é definido pelo Dicionário Livre como, (1) uma religião ou seita religiosa geralmente considerada extremista ou falsa, onde seus seguidores muitas vezes vivem de uma forma não convencional, sob a orientação de um líder autoritário e carismático, (2) Método ou sistema, geralmente não científicos, cujo criador diz que o mesmo possui poder exclusivo ou excepcional para curar uma determinada doença e (3) Obsessão, especialmente se estiver na moda, devoção ou veneração por uma pessoa, príncipio ou coisa.

Aqui estão alguns sinais-chave para se identificar cultistas (dentre eles sectários):

O líder está sempre certo

Liderança carismática é fortemente demonstrada em uma situação de culto. A máxima é de que "o líder tem sempre razão". Muito frequentemente, a sua "santidade" é auto-ungido e vários títulos honoríficos são produzidos sem qualquer evidência clara de certificação. Quando questionado em particular sobre a sua ordenação, especificamente sobre onde, como e quando ocorreu, as suas respostas são normalmente evasivas, ou na melhor das hipóteses uma lista desconexa de significados obscuros (como "uma linhagem de nenhuma escola").

O líder afirmará ter conhecimento supremo em determinadas áreas de informação (vinaya, suttas ou liturgia), e pode se utilizar de alguns versículos para justificar seus pensamentos e ações. Com essa mentalidade, ele sente possuir autoridade divina para instruir as pessoas como devem viver e se comportar (como diz o ditado, em terra de cego, quem tem um olho é rei).

Não há questionamentos

Seguidores do culto costumam citar seus líderes sem nunca questioná-los. Questionar o líder de uma seita pode resultar em sanção ou abandono por parte dos outros membros e do líder. Até mesmo o "Kalama Sutta" pode ser distorcido para se encaixar na interpretação. Um dos versos favoritos é a aplicação seletiva que somente "... quando vós mesmos souberes:" Essas coisas (ações) são boas, essas coisas não são condenáveis; essas coisas são elogiadas pelos sábios; realizadas e observadas, estas coisas levam ao beneficio e à felicidade ", entre e permaneça nelas."

O problema com isto é que é frequentemente dito aos seguidores que eles são "aprendizes do Dharma", que, devido à sua "ignorância", eles precisam praticar mais diligentemente antes que possam decidir por si mesmos. Como tal, é imperativo formar a "amizade espiritual", Kalyana Mitra: a ligação especial entre "professor e aprendiz". Infelizmente, os cultistas tendem a explorar essa relação para seus próprios fins, o que leva eventualmente à perpetuação de um sistema parasitário ou à dependência contínua. Isso é a antítese dos relacionamentos simbióticos que existem entre a Sangha e os leigos que são estabelecidos em escolas regulares.

Seguidores do culto exibem um zelo inquestionável pelo seu líder e se recusam a aceitar que seu líder esteja errado. Nos casos mais extremos os cultistas podem recorrer à violência para proteger seu professor.

O mundo inteiro está contra nós

Críticas públicas e reprimendas por aqueles que são vistos como mais experientes ou populares, geralmente fazem com que o líder assuma a posição de oprimido. Seguidores são constantemente lembrados de que estão sendo intimidados por mãos invisíveis, por pessoas com autoridade e por aqueles que tem inveja de suas formas pouco ortodoxas. A única maneira que eles tem de combater essas forças é a união.

Ninguém mais está certo

Os líderes da seita acreditam que detêm o monopólio da verdade em seu método de transmitir os ensinamentos e no caminho da prática. Qualquer pessoa que queira participar ou visitar um outro centro ou grupo de Dharma é evitado pelo restante da congregação e considerado um traidor. Houve um caso, na Malásia, onde um professor de culto grosseiramente abusou do Pannatti Puggala (o livro de classificação dos quatro tipos de indivíduos) para estigmatizar aqueles que não seguem os rituais prescritos e os modos de comportamento como "padaparama" - indivíduos que não podem obter a libertação de males mundanos durante este tempo de vida, embora ele ou ela se enpenhem com todo seu esforço na prática do Dhamma. Para piorar a situação,tudo que se precisa fazer para conseguir a liberação é seguir rigorosamente os métodos prescritos e seguir as instruções do professor.

Exploração financeira

Cultos geralmente estão preocupados em angariar dinheiro, seja para a caridade ou para construir seu centro. Um de seus métodos favoritos é enfatizar os ensinamentos do "não-eu", "ausência de ego", "ganância" e "vazio" e, em seguida, relaciona-los com a idéia de que a riqueza pessoal tem menos "mérito" em comparação com a partilha com a comunidade para difundir o Dharma. Grupos de culto ensinam que se sacrificar para o bem maior de organização é muito melhor do que colocar o seu dinheiro em outro lugar.

Usando medo e intimidação

Religiões de culto dependem da intimidação, privada e pública, para manter seus membros na linha. Particularmente no budismo, onde a ênfase do treinamento da mente através da meditação é integral à prática, indivíduos fracos ou aqueles que estão enfrentando problemas pessoais são especialmente suscetíveis a esse tratamento. Através de seu carisma, os líderes da seita são adeptos a "empatizar" com aqueles que enfrentam problemas pessoais.

Quando o líder se irrita e usa palavras ásperas, explica-se logo que é apenas uma expressão de "amor e compaixão". Alguns justificam este comportamento rotulando a resposta agressiva como "amizade feroz". E quando o membro alvo também está sujeito à pressão de seus pares para "modificar o seu comportamento", a intimidação se torna completa. Isto é o objeto de estudo da "Psicologia das massas"

Como resultado, os membros do culto continuamente enfrentam batalhas intragrupais para manter o seu status devido ao seu desejo de aceitação e pelo fato de que o mesmo pode mudar dependendo do que está acontecendo em sua vida². Desta forma, os líderes religiosos da seita são capazes de manter um fluxo constante de membros obrigados e vinculados à sua organização.

Lavagem cerebral

Quase todos os cultos budistas nocivos usam alguma técnica de alteração da mente, como a meditação, o medo do professor, o medo de "karma ruim" e a manipulação emocional para fazer lavagem cerebral nos membros da congregação e obriga-los a ficar.

Tais líderes também são adeptos do uso da culpa, muitas vezes jogando com a mente de pessoas confusas, dando-lhes aconselhamento pessoal sobre "observações de formações mentais", após uma sessão de meditação sentada.

Ao invez de levar o aluno a fortalecer sua determinação pessoal para que possa enfrentar seus demônios internos, o cultista vai preferir cultivar idéias de libertação por meio do apoio da comunidade, perpetuando a dependência do aluno em forças externas.

______________________________

1 - O uso da palavra culto na língua inglesa é diferente do uso na lingua portuguesa. Daí a tradução de cult para culto nocivo, já que no inglês a palavra culto tem uma conotação negativa quase que aprioristicamente. Neste texto, compreende a palavra culto, como algo nocivo caso não seja especificado.

2 - Esta parte do texto foi alterada em relação ao original para ficar mais condizente com as teorias de psicologia social e comportamentos de grupo. Esta parte do texto no orginal não faz sentido e não condiz com os conceitos de psicologia a qual se refere ao longo do texto.

(traduzido do Original: http://tinyurl.com/9b8rldx)

29 de novembro de 2012

Budismo e Futebol?

http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/2012/11/budistas-torcem-e-dao-dicas-ao-timao-no-japao-sem-estrelismo.html

5 de novembro de 2012

Ventos da Impermanência 2

Neste último dia de finados foi o 13o aniversário de morte de meu avô, um grande cara, um grande amigo, que sempre me incentivou e se orgulhava de todas as minas conquistas. Sarcástico, mas muito engraçado, se interessava por ciência, cotidiano, voleibol na TV, jogos do Palestra, vinho e uma cachacinha de vez em quando. Até hoje sinto grande saudade dele! Contudo, nesta data se comemorou 13 anos que concebemos nossa segunda filha, sim isso mesmo, na noite que ele morreu a mais de 400km de onde estávamos e sem sabermos ainda das notícias, nossa filha era concebida.  Uma troca. Uma vida acabara de ir-se e outra voltava, realizando assim o grande ciclo da vida no Samsara.  Claro que como budista cheguei a pensar que talvez meu avô tivesse voltado nela, mas o karma prega muitas peças em nós e qualquer garantia disso é nula. Hoje em dia vejo que minha filha tem mais chance de ter sido alguma pessoa oriental na outra vida do que meu avô, com certeza.  Apesar que o sarcasmo e as tiradas hilárias são as mesmas!

Mas nestes último dia de finados, os ventos da impermanência sopraram na família novamente: uma priminha de pouca idade, 2 anos, faleceu no interior. Ela e a irmã mais velha de 5 adquiriram uma bactéria desconhecida, a mais velha venceu mas a mais nova não resistiu a batalha pela vida. 

Minha mãe me liga desesperada, aos prantos, pois embora o contato com os primos fosse muito distante, ela se sentiu tocada pelo fato, pois ela havia perdido um irmão de 2 anos na sua frente, quando ela tinha os mesmos 4 anos, em um acidente com uma floreira que virou por cima da criança. Parece que todo esse passado voltou a tona na mente dela que me ligou em busca de conforto, se é que há algum em uma hora dessas, queria saber como o Budismo via isso. Detalhe interessante, ela frequenta a catedral anglicana.

A grande questão da minha mãe era que meu tio de 90 anos há 2 semanas caiu, quebrou um fêmur, colocou uma protese e está em casa. Minha prima, 2 anos, contraiu uma doença e morreu. Afinal que justiça é essa que mantém vivo alguém que já teve a vida feita e ceifa os primeiros anos de um criança?

Comecei dizendo a ela que sob a ótica budista aquela pessoa "estava" criança mas que já tinha sido um adulto em uma outra vida. Ficamos chocados com o que acontece com um ser indefeso mas nos esquecemos que esse ser já foi criado, adulto, viveu, talvez tenha casado, com família ou não, tivesse sido um deliquente, um marginal ou um sacerdote, não importa. Não importa o que tenhamos sido, o que importa é que agimos, fizemos muitas coisas na vida e vamos colher as consequências delas por anos a fio. Algumas vem em questão de minutos ou horas, outras em algumas vidas. Nunca saberemos.

Tudo o que fazemos cria nossos alicerces para nossos próximos dias ou horas ou anos ou vidas e esses alicerces podem ser firmes e nos conduza por muitos anos como seres humanos ou podem ser frágeis. Mas não há culpa, apenas constatação. Uma criança não tem culpa, ela só colheu os frutos de uma vida passada. Um velho de tantos anos também não tem culpa pois também colhe o que foi plantado e neste caso, falamos de uma pessoa que também enterrou um filho suicida, que também sofreu a dor dilacerante de ver a ordem natural da vida se inverter e ter que ver um filho partir.

Mas nisso há um lado positivo, pois o fruto do karma quando se manifesta se extingue, então nos livramos desse peso e vamos com pelo menos um "problema" a menos para nossa próxima existência.

Dificilmente um ensinamento vai diminuir a dor de perder um filho. Deve ser algo que nos dá vontade de arrancar as vísceras de tão desesperador. Mas podemos pelo menos tentar compreender e aos poucos quando a vida retoma as rédeas, vamos lapidando esse sentimento.

Namu Amida Butsu!

15 de outubro de 2012

Ventos da impermanência sempre implacáveis


A impermanência é algo implacável sem duvida... uma amiga e colega de trabalho na Africa do Sul com quem conversei pelo FB messenger na quinta-feira, estava feliz e radiante pela sua promoção, me contou toda alegre seus novos planos e a nova carreira. 24 horas de pois seu carro colide de frente com um caminhão, matando-a na hora.  Realmente, acordamos saudáveis em um dia e a tarde podemos ser nada mais do que um punhado de cinzas brancas. Reflitamos sobre a impermanencia da vida e como devemos viver o presente, o minuto presente, como se fosse o último. Ganancia, soberba, posses? do que serve se o nosso único juiz e algoz é a nosso próprio karma?

Reverenciemos sempre.... Namu Amida Butsu!

6 de outubro de 2012

Ataques aos Budistas de Bangladesh

O Colegiado Budista Brasileiro, entidade que congrega as principais lideranças budistas brasileiras, vem a público lamentar profundamente e repudiar veementemente a agressão violenta sofrida pela minoria budista do Bangladesh por parte de militantes extremistas islâmicos, da qual resultou a destruição pelo fogo de vários templos com seus objetos de culto e símbolos sagrados. Os budistas não respondem ódio com ódio e violência com violência, eles se limitam a lamentar compassivamente os atos insanos nascidos da ignorância e do egoísmo do ser humano e a lembrar as sábias palavras do imperador budista indiano Açoka, que proclamava que perseguir e agredir a religião alheia acarreta danos para nossa própria religião.
Com efeito, não é através dessas atitudes violentas geradas por uma minoria de extremistas que a religião muçulmana há de angariar o respeito e a consideração a que faz jus por parte da comunidade internacional, assim pedimos que os muçulmanos de bem repudiem publicamente as ações dos extremistas. Os budistas brasileiros pedem vênia aos extremistas muçulmanos para lembrar-lhes que o próprio Alcorão Sagrado ensina que "não há imposição quanto à religião" (2:256) e para recordar-lhes as belíssimas palavras com que o grande místico islâmico Ibn 'Arabi de Múrcia (1165- 1240) celebrou sua adesão ao Amor Universal que transcende todas as diferenças confessionais e sectárias:

"Oh! Maravilha-te! É um jardim entre as chamas!
Meu coração tornou-se capaz de todas as formas:
é um pasto para as gazelas, um convento para monges cristãos,
Um templo para ídolos, e a Caaba dos peregrinos,
E as tábuas da Torá e o livro do Alcorão.
Sigo a religião do Amor: não importa o rumo que tomam
os camelos do Amor, essa é minha religião e minha fé."


Colegiado Buddhista Brasileiro

Diretoria
Presidente Rev. Shaku Haku-Shin

Rev. Meihô Genshô
Dhammacariya Dhanapala
Shaku Hondaku
Claudio Miklos Kômyô

Presidente do Conselho do CBB
Rev. Prof. Dr. Ricardo Mário Gonçalves

Conselho
Lama Chagdud Khadro
Rev. Monge Rinchen Khienrab
Rev. Heyla Downey
Ven. Uttaranyana Sayadaw
Rev. Shaku Sogyo
Rev. Monja Sinceridade
Rev. Coen Sensei

Aliam-se a declaração:
- Choyu Otani (Mestres das Missões da Ordem Otani-ha)
- Rinban Kensho Kikuchi (Ministro Superior da Ordem Otani-ha no Brasil)
- Rev. Ricardo Mario Gonçalves
- Rev. Hiroshi Matsuda
- Rev. Massaharu Suguiura
- Rev. Severino Sales Silva
- Rev. Leninha Brasileiro
- Rev. Hiroyuki Higashi
- Rev. Tsuyami Ueno
- Rev. Tadao Sawanaka
- Rev. Yassuo Nakashima
- Rev. Mitsue Nakashima
- Rev. Meishi Nakazawa
- Rev. Shu Izuhara
- Rev. Linda Morimoto
- Rev. Yaeko Togawa
- Rev. Minako Iso
- Rev. Kasuro Nanao
- Rev. Margarida Nakaoka
- Yuka Kikuchi
- Rev. Seigo Nawa

16 de setembro de 2012

Como identificar um culto budista nocivo

Por Upasaka HL Wai, O Canal budista, 02 de julho de 2007

Kuala Lumpur, Malásia - Como qualquer grande religião no mundo, o Budismo também tem seu quinhão de cultos nocivos. Não importa se o líder é chamado de Guru, Rinpoche, Sifu ou Bhante, desde que haja tendência de usar e abusar do Dharma para ganho pessoal, como obter seguidores com intuito de alimentar o ego do líder ou sua excentricidade, cultistas sempre irão existir. Cultos também irão prosperar enquanto houver seguidores que se deixam ser enganados, estejam eles cientes disso ou não.

Um culto¹ é definido pelo Dicionário Livre como, (1) uma religião ou seita religiosa geralmente considerada extremista ou falsa, onde seus seguidores muitas vezes vivem de uma forma não convencional, sob a orientação de um líder autoritário e carismático, (2) Método ou sistema, geralmente não científicos, cujo criador diz que o mesmo possui poder exclusivo ou excepcional para curar uma determinada doença e (3) Obsessão, especialmente se estiver na moda, devoção ou veneração por uma pessoa, príncipio ou coisa.

Aqui estão alguns sinais-chave para se identificar cultistas (dentre eles sectários):

O líder está sempre certo

Liderança carismática é fortemente demonstrada em uma situação de culto. A máxima é de que "o líder tem sempre razão". Muito frequentemente, a sua "santidade" é auto-ungido e vários títulos honoríficos são produzidos sem qualquer evidência clara de certificação. Quando questionado em particular sobre a sua ordenação, especificamente sobre onde, como e quando ocorreu, as suas respostas são normalmente evasivas, ou na melhor das hipóteses uma lista desconexa de significados obscuros (como "uma linhagem de nenhuma escola").

O líder afirmará ter conhecimento supremo em determinadas áreas de informação (vinaya, suttas ou liturgia), e pode se utilizar de alguns versículos para justificar seus pensamentos e ações. Com essa mentalidade, ele sente possuir autoridade divina para instruir as pessoas como devem viver e se comportar (como diz o ditado, em terra de cego, quem tem um olho é rei).

Não há questionamentos

Seguidores do culto costumam citar seus líderes sem nunca questioná-los. Questionar o líder de uma seita pode resultar em sanção ou abandono por parte dos outros membros e do líder. Até mesmo o "Kalama Sutta" pode ser distorcido para se encaixar na interpretação. Um dos versos favoritos é a aplicação seletiva que somente "... quando vós mesmos souberes:" Essas coisas (ações) são boas, essas coisas não são condenáveis; essas coisas são elogiadas pelos sábios; realizadas e observadas, estas coisas levam ao beneficio e à felicidade ", entre e permaneça nelas."

O problema com isto é que é frequentemente dito aos seguidores que eles são "aprendizes do Dharma", que, devido à sua "ignorância", eles precisam praticar mais diligentemente antes que possam decidir por si mesmos. Como tal, é imperativo formar a "amizade espiritual", Kalyana Mitra: a ligação especial entre "professor e aprendiz". Infelizmente, os cultistas tendem a explorar essa relação para seus próprios fins, o que leva eventualmente à perpetuação de um sistema parasitário ou à dependência contínua. Isso é a antítese dos relacionamentos simbióticos que existem entre a Sangha e os leigos que são estabelecidos em escolas regulares.

Seguidores do culto exibem um zelo inquestionável pelo seu líder e se recusam a aceitar que seu líder esteja errado. Nos casos mais extremos os cultistas podem recorrer à violência para proteger seu professor.

O mundo inteiro está contra nós

Críticas públicas e reprimendas por aqueles que são vistos como mais experientes ou populares, geralmente fazem com que o líder assuma a posição de oprimido. Seguidores são constantemente lembrados de que estão sendo intimidados por mãos invisíveis, por pessoas com autoridade e por aqueles que tem inveja de suas formas pouco ortodoxas. A única maneira que eles tem de combater essas forças é a união.

Ninguém mais está certo

Os líderes da seita acreditam que detêm o monopólio da verdade em seu método de transmitir os ensinamentos e no caminho da prática. Qualquer pessoa que queira participar ou visitar um outro centro ou grupo de Dharma é evitado pelo restante da congregação e considerado um traidor. Houve um caso, na Malásia, onde um professor de culto grosseiramente abusou do Pannatti Puggala (o livro de classificação dos quatro tipos de indivíduos) para estigmatizar aqueles que não seguem os rituais prescritos e os modos de comportamento como "padaparama" - indivíduos que não podem obter a libertação de males mundanos durante este tempo de vida, embora ele ou ela se enpenhem com todo seu esforço na prática do Dhamma. Para piorar a situação,tudo que se precisa faze para conseguir a liberação é seguir rigorosamente os métodos prescritos e seguir as instruções do professor.

Exploração financeira

Cultos geralmente estão preocupados em angariar dinheiro, seja para a caridade ou para construir seu centro. Um de seus métodos favoritos é enfatizar os ensinamentos do "não-eu", "ausência de ego", "ganância" e "vazio" e, em seguida, relaciona-los com a idéia de que a riqueza pessoal tem menos "mérito" em comparação com a partilha com a comunidade para difundir o Dharma. Grupos de culto ensinam que se sacrificar para o bem maior de organização é muito melhor do que colocar o seu dinheiro em outro lugar.

Usando medo e intimidação

Religiões de culto dependem da intimidação, privada e pública, para manter seus membros na linha. Particularmente no budismo, onde a ênfase do treinamento da mente através da meditação é integral à prática, indivíduos fracos ou aqueles que estão enfrentando problemas pessoais são especialmente suscetíveis a esse tratamento. Através de seu carisma, os líderes da seita são adeptos a "empatizar" com aqueles que enfrentam problemas pessoais.

Quando o líder se irrita e usa palavras ásperas, explica-se logo que é apenas uma expressão de "amor e compaixão". Alguns justificam este comportamento rotulando a resposta agressiva como "amizade feroz". E quando o membro alvo também está sujeito à pressão de seus pares para "modificar o seu comportamento", a intimidação se torna completa. Isto é o objeto de estudo da "Psicologia das massas"

Como resultado, os membros do culto continuamente enfrentam batalhas intragrupais para manter o seu status devido ao seu desejo de aceitação e pelo fato de que o mesmo pode mudar dependendo do que está acontecendo em sua vida². Desta forma, os líderes religiosos da seita são capazes de manter um fluxo constante de membros obrigados e vinculados à sua organização.

Lavagem cerebral

Quase todos os cultos budistas nocivos usam alguma técnica de alteração da mente, como a meditação, o medo do professor, o medo de "karma ruim" e a manipulação emocional para fazer lavagem cerebral nos membros da congregação e obriga-los a ficar.

Tais líderes também são adeptos do uso da culpa, muitas vezes jogando com a mente de pessoas confusas, dando-lhes aconselhamento pessoal sobre "observações de formações mentais", após uma sessão de meditação sentada.

Ao invez de levar o aluno a fortalecer sua determinação pessoal para que possa enfrentar seus demônios internos, o cultista vai preferir cultivar idéias de libertação por meio do apoio da comunidade, perpetuando a dependência do aluno em forças externas.

______________________________

1 - O uso da palavra culto na língua inglesa é diferente do uso na lingua portuguesa. Daí a tradução de cult para culto nocivo, já que no inglês a palavra culto tem uma conotação negativa quase que aprioristicamente. Neste texto, compreende a palavra culto, como algo nocivo caso não seja especificado.

2 - Esta parte do texto foi alterada em relação ao original para ficar mais condizente com as teorias de psicologia social e comportamentos de grupo. Esta parte do texto no orginal não faz sentido e não condiz com os conceitos de psicologia a qual se refere ao longo do texto.

(traduzido do Original: http://tinyurl.com/9b8rldx por Mauricio Ghigonetto e João Gabriel Carvalho Tavares)

11 de setembro de 2012

Grupo de Estudos Retomados

Amigos, retomei meu grupo de estudos budistas. As reuniões são quinzenais na Rua Michigan, 333 das 20:30 as 22 horas. No mes de setembro teremos dias 11 e 25. Aguardo vcs!

21 de junho de 2012

Homossexualidade e a Imbecilidade Humana

Todos esses anos me limitei a eventos cotidianos e alguns temas polêmicos e achei que nunca iria precisar escrever sobre isso, pois para mim cada vez mais vejo que a comunidade LGBT está mais aberta e inserida na sociedade. Continuo achando que está, pois vejo casais gays de mãos dadas na rua, trocando beijos, carinhos e se mostrando como qualquer casal normal, como realmente deveria ser. Fico bastante contente por isso.

Contudo o que estamos vendo é uma reação infundada, insana, idiota, estúpida e irritante de grupos cristãos (católicos, evangélicos e cia) tentando interferir nas vidas de pessoas livres e pensantes com argumentações estapafúrdias e sem qualquer base ou cabimento. Tentando usurpar o estado de direito laico de nosso país de maneira fascista e desumana com teorias que me lembram a da "terra reta" ou da "geração espontanea" (aquela que dizia que roupa suja, graos de cereais e agua geravam ratos! Lembram disso?).

Que se queira cuidar das bases, ora insanas, de organizações religiosas, cada um tem o direito de proferir o que quer, como quiser (desde que arque com as consequências das besteiras que fale), agora impor sua crença e sua mediocridade ao resto de uma população é no mínimo a volta da inquisição ou o Quarto Reich. Que uma religião pregue que não aceita o homossexualismo, por mais idiota que possa parecer, é um direito deles, mas esses não tem nem um milímetro de direito de impor a uma população suas visòes retrórgadas.

Essa preocupação desenfreada de algumas denominaçòes religiosas com homossexualismo, só pode ser porque perderam a chave da porta do armário, se é que me entendem. A preocupação é tão grande que me parece esconder algo muito maior por detrás. Algo que deva se encoberto, como talvez, a própria homossexualidade de alguns líderes de tais igrejas.

O que me ainda tranquiliza é que tenho amigos evangélicos e católicos que se opões firmemente contra essas idéias fascistas, mostrando que a lavagem cerebral deve atingir poucos e não a grande maioria.

Não incluo aqui, claro, todas as denominações cristãs, pois ainda bem que existem organizações como as igrejas Anglicanas que recebem SERES HUMANOS entre suas colunas seculares e estende a todos os seres humanos a mesma igualdade de diretos espirituais, sem distinção todos são acolhidos. Parabens!

Como também no Budismo. Não estamos nem aí com nenhuma característica do ser humano, pois todos somos egóicos, heteros ou homos, somos todos dependentes do karma e travamos a mesma luta para cessá-lo.

A Terra Pura é uma terra destinada a todos os seres, principalmente aqueles que confiem no Voto Original e não me lembro dentro dos 48 Votos de Amida qualquer menção a credo, cor, opção sexual, tipo de cabelo, gênero, altura, peso ou QI... lembro apenas que "não atingirei a Iluminação até que todos os seres estejam salvos". Simples assim.

Essa vontade do ser humano de construir um deus a sua própria e insiginificante imagem, o coloca no topo da montanha do ego. Quem são essas pessoas para tentar se igualar ou falar em nome de um suposto ser tão abrangente? Tomando por base um livro que ninguém sabe quem escreveu e cada um interpreta da maneira que quer? ora ora... quem somos nós para isso?

Cada um de nós tem que se posicionar sobre esses temas sejam em rodas de amigos, em redes sociais, o governo e esses religiosos da porta do inferno tem que saber que a maioria da população pensa e toma atitudes.

Aos que se vêem no olho do furacão por pertencer a grupos deste tipo e não pode suportar a pressão, saiba que você pode ser acolhido em muitas outras denominações reliosas tradicionais cristãs ou budistas. Nem tudo está perdido.

Namu Amida Butsu


PS: em homenagem a um bom amigo, companheiro de senda Budista, soryo  e orgulhosamente.... gay! :-)

Um novo conceito para se aprender o Budismo

No dia de ontem o Instituto de Ensinos Missionários do Nambei Honganji (Higashi)  aprovou  a criação no Brasil dos chamados "Nembutsu Dojo".  "Dojo" é a palavra japonesa para "local de treino, local de prática" e "Nembutsu" é a prática de recitação do nome do Buda.

Essa decisão é muito importante para a Escola da Terra Pura (Jodo Shinshu) na missão de divulgação desa doutrina em português.  Esse movimento começou em Tóquio ha alguns anos com o intuito de tirar o Budismo de dentro dos templos e levá-lo a locais mais perto das casas e trabalho das pessoas. Sabe-se que Toquio é uma cidade imensa e a locomoção demora horas, logo inserir as práticas budistas de ouvir o Dharma dentro desse cronograma diário que esteja longe do itinerário comum das pessoas fica quase impossível.

Será que essa situação não se assemelha as nossas metrópoles brasileiras, tais como São Paulo e Rio de Janeiro? E também européias como Paris e Londres, por exemplo?

A idéia primordial em Tóquio era que esses 'dojo' ficassem exclusivamente perto de estações de metro e trens e os horários de funcionamneto se alinhassem com a dinâmica dos frequentadores.
Então com essa aprovação, montamos um 'dojo' em São Paulo, no bairro do Brooklin, coordenado por mim e outro em Paris, coordenado por um brasileiro e existem planos para Campinas e Recife para os próximos, com a supervisão direta do Rev. Wagner Haku-shin e subordinação ao Apucarana Shinshu Gakkuin.  O dojo de SP, chamado de Daishinkai Nembutsu Dojo (Daishinkai quer dizer 'Coração Vasto Como o Oceano') segue a idéia de Tóquio também, pois embora em área residencial, localiza-se em local de grande deslocamento de pessoas de e para uma das maiores áreas de concentração de escritórios e escolas da cidade. Sendo próxima a  4 importantes avenidas e distante 100 metros de uma futura e já em construção estação de metro.

As reuniões serão quinzenais a princípio e com cerimônias mensais aos fins de semana, tudo em português e num ambiente muito agradável com jardins e espaço para 40 pessoas pelo menos.

O Mugeko Nembutsu Dojo de Paris, coordenado pelo Jean Jacques Algieri também segue a idéia japonesa estando localizado em área residencial e com acesso fácil por metro. Mugeko significa "Luz Livre de Obstáculo" e vai levar a escola da Terra Pura para Paris, local que ainda não possui templos de nossa escola. Essa é uma oportunidade ímpar para franceses e brasileiros na Europa para ouvir o Dharma.

Esses dojo chegam para preencher uma lacuna há muito aberta no que tange a divulgação dessa doutrina em línguas locais para que todos, incluindo descendentes de japoneses que não mais falam a lingua de seus ancestrais mas querem entender essa religião que impregma suas culturas. No que diz respeito aos não-descendentes, finalmente teremos uma transmissão em lingua pátria, tanto em português como em francês, esclarecendo termos e ao mesmo tempo mantendo tradições que nos unem no mundo todo.

Se quiser conhecer mais entre em contato conosco via Facebook ou Email

Namu Amida Butsu
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22 de maio de 2012

Estadia em Apucarana

Com muito atrasado venho postar sobre os dias que passei no Templo Apucarana Nambei Honganji a convite do meu sensei, Rev. Wagner Haku-shi e sua esposa Rev. Sayuri, recebendo ensinamentos, conversando sobre planos futuros, ordenação e ajudando nos preparativos para o Hanamatsuri, a Festa das Flores, que comemora o nascimento do Buddha Shakyamuni.

Minha ida se deu no feriado do dia do trabalho, cheguei no sábado de madrugada em Londrina, onde os revendos me esperavam. Bom, neste instante a conversa começou só acabou 4 dias depois!

Durante esses dias, além de conhecer uma cidade muito interessante, pude viver um pouco o dia-a-dia de um templo shinshu, interagindo com a comunidade nos preparativos da festa e vendo como é a ação dos monges que vivem diretamente nos templos.

Podemos achar que é uma vida tranquila e claro que comparado com nossa vida atribulada de metrópole é muito mais easy, mas isso não quer dizer que não tenha o que se fazer. Tem! E muito! Sayuri-san mal parou nesses dias para garantir que tudo estivesse estruturado e em seu lugar para a festa mais importante do Budismo japonês. O entra-e-sai no templo é constante e as "velhinhas" do Fujinkai (Associação de Senhoras) não pararam de cozinhar para fazer que tudo estivesse nos conformes para a festa na terça-feira. No domingo, tudo já estava fervilhando por lá.  Sorte minha e do Jean Jacques! Pois comida caseira japonesa feito por senhorinhas que sabem o que estão fazendo é maravilhosa!

Muita conversa fluia a cada minuto que sentávamos para fazer qualquer coisa, dúvidas, planos, liturgia, recitações, histórias engraçadas, notícias da comunidade, fofocas do Dharma, muito chá verde, cerveja, comida e conversa novamente.

Jean Jacques, um bom amigo que trilha o caminho monástico comigo, chegou na segunda-feira adicionando mais conersa, mais duvidas, mais notícias. Já estávamos integrados, nos sentindo em casa e com pena de irmos embora.

A comunidade toda nos recebeu de braços abertos, até meio supresa por ver dois gaijins, um se deslocando de São Paulo e outro de... Paris para comemorar o Hanamatsuri ali em Apucarana. Motivo do discurso do presidente das associações budistas, ressaltando nossa presença e a importância que o "o-tera" (templo) de Apucarana estava ganhando. Afinal, dos provaveis próximos 5 monges da Missão, 3 sairiam dali!  Mesmo porque outro monge, de Curitiba,  já tinha passado alguns dias antes de nós por lá para receber ensinamentos do Rev. Haku-shin e para a festa chegou Rev. Benjamin de Presidente Prudente, o qual iria fazer a prédica principal das comemorações. Quase sem querer, o otera de Apucarana virou uma "escola budista" (Bukkyo Gakkuin) por quase uma semana naquele período ou melhor uma "Escola do Budismo Terra Pura" (Shinshu Gakkuin)!

Uma semente importante para o Budismo no Brasil foi plantada ali. Não estávamos ali para somente para planejar, para conjecturar. Ali estávamos para decidir e fazer as coisas acontecerem. Decidir como seria o futuro, como daríamos continuidade aos trabalhos missionários no Brasil e qual seria o papel de cada um nesse contexto.

Foi uma experiência incrível e garanto que tanto eu como Jean Jacques nos sentimos parte integrante desta sangha e lá sempre estaremos quando necessitarem ou quando nos forem solicitados.

O Hanamatsuri foi maravilhoso! Templo cheio! Dia de festa! Rev. Haku-shin e Rev. Benjamin recitando o Sutra Longo de Amida enquanto toda a assembléia dava banho de chá adocicado na estátua do Buda menino apontando para o céu e para a terra.  Shoshinge recitado, wasan e eko. Fotos a vontade e confraternização. Toda a comunidade veio nos cumprimentar e parabenizar pelo nosso futuro na Missão.

Nessa hora percebemos um jovem rapaz, 12 ou 13 anos, loiro de olhos azuis no meio dos japoneses, portando um nenju (que depois soubemos que ele mesmo o havia feito). Causava estranheza. Sabia as recitações e tentava copiar a minha postura e a do Jean Jacques.  Indagamos quem era e descobrimos uma história intrigante.  Rev. Haku-shin costuma colocar gasolina em um único posto em Apucarana e um dia um dos frentistas veio conversar com ele sobre o filho.  Disse que o rapaz era aficcionado por cultura japonesa, só se interessava sobre isso e queria saber se o filho poderia visitar o templo. E então passou a ir lá, incentivado pelo pai (que nem fazia idéia do que era Budismo) nas datas comemorativas, lembrando que mora em outra cidade que não Apucarana. O rapaz agora aprende japonês e está decidido em realmente seguir o caminho do Budismo.  Lembrei muito de mim quando imagens dos meus 3 ou 4 anos vendo filmes de samurais na televisão me vem à mente e da sensação de extase que me provocavam, como se eu tivesse vivido ali fazia pouco. Ouvindo essas histórias cada vez mais vejo que renascimento é algo indubitável.

Se tudo der certo em julho estaremos lá novamente para os Ritos de Obon, a homenagem aos mortos no Budismo japones.

Namo Amida Butsu!

19 de maio de 2012

Jodo Shinshu: a doutrina do povo

Numa certa aldeia no Japão, haviam dois monges, um da escola da Terra Pura que há muito vivia ali e outro que havia aparecido há pouco e se instalado por lá. Aldeia pobre, restrita em recursos, arroz escasso, muitos impostos para pagar ao daimyo, não poderia sustentar dois monges.

O prefeito então numa manhã fria e ensolarada reuniu a aldeia na praça e pediu que uma grande tina d'água fosse colocada sobre uma fogueira, ordenando que litros e litros de água fossem fervidos.

Chamou então os dois monges e proferiu o ultimato: "Nossa vila é pobre, não podemos sustentar dois monges, mas também não sabemos como decidir com qual dos dois devemo ficar.  Então teremos uma prova e aquele que passar ficará na nossa vila, o outro terá que partir." Ambos os monges ainda meio atordoados pela movimentação, conscientiram com os procedimentos.

O prefeito proferiu as regras: "Eis uma tina cheia d'água fervente. Vocês dois terão que entrar na tina, o que sair ileso ficará na aldeia". Imediatamente, o monge que havia chegado a pouco se prontificou a entrar na tina. Fez várias orações, prostrações, mantras, mudras, tudo que sabia para invocar a cosmologia budista inteira. Tirou suas vestes e entrou na tina lá ficando por mais de cinco minutos imersos. De repente, ele emerge todo vermelho, com fumaça saindo pelos poros, tonto, mas vivo. A vila inteira aplaude estupefata a atitude do monge, alguns se prostram e outros louvam o Buda. Ao sair da tina, o monge novato faz uma reverência a todos, se veste e se retira.

Quando a aldeia se volta novamente para a tina, vêem o monge Terra Pura com as mangas do kimono arregaçada, testando a água da tina. Percebendo a curiosidade de todos, ele ordena: "Alguém poderia trazer quatro pequenas tinas de água do poço?". O prefeito sem entender nada, ordena a dois adolescentes que se apressassem para seguir as ordens do monge.

Trazidas as tinas de água fresca, o monge pega cada uma, sobe em um banquinho de madeira e as despeja no recipiente.  Novamente, enfia os braços dentro da grande tina, mas não fica satisfeito. "Mais duas!", ordenou com um berro ao prefeito.  Como em um passe de mágica, surge mais um jovem com duas tinas menores nos ombros, as quais foram despejadas pelo monge dentro da tina maior.  Testando a temperatura mais um vez, um sorriso brotou dos lábios do monge.

Ele então, pegou o banquinho no qual estava trepado e colocou dentro da tina, despiu-se de suas vestes, ficando com suas roupas de baixo e entrou na tina.  Sentou-se no banquinho com água pelo pescoço, reclinou-se e relaxou soltando um longo suspiro... alguns instantes se passaram e ele se incomodou com o silêncio que o cercava e abriu os olhos. Foi então que viu a vila inteira de boca aberta, sem entender o que se passava.  O monge mais que depressa repreendeu a todos: "Ora, ora, o que estão fazendo aí parados? Entrem, entrem, a água está ótima, não vamos disperdiçar! Entrem, não fiquem acanhados.". E um a um os aldeões foram entrando na tina e se reclinando, sentindo a água morna em seus corpos cansados da labuta nos campos de arroz.

Algumas mulheres então lembraram que tinham alguns bolinhos de arroz que sobraram do jantar do dia anterior e os trouxeram para perto da tina em cima de uma mesa, o prefeito lembrou que tinha ainda um pouco de um bom saque que ganhara de um amigo. Alguns jovens correram e colheram algumas ameixas e pegaram alguns pedaços de tofu na casa de seus pais. Ao final de alguns minutos, havia uma festa na aldeia, todos se confraternizando e ouvindo as histórias contadas pelo monge sobre o budismo e sobre suas andanças. A aldeia toda participou de um momento único, integrada sob o louvor do Buda e se sentiram iguais, vendo que ali não haviam poderes mágicos, que a mágica da vida estava em compartilhar os momentos com todos, tristes ou felizes.

Advinhem qual monge ficou na aldeia?

16 de maio de 2012

Cuidado Onde Você Pisa

Como o Budismo é uma religião sem uma liderança central, existem muitos grupos "travestidos" de budistas mas que não pregam a doutrina como deveriam, seja por interesses comerciais, seja por egocentrismo dos líderes ou mesmo por seu "líder" achar que todo mundo está errado e só ele certo (mesmo que esse "todo mundo" sejam escolas centenárias e estruturadas!) e resolve fundar um grupo/seita/escola próprios. 

Desde muito tempo me interesso em pesquisar esses grupos e há mais de 15 anos me correspondo com um instituto acadêmico nos EUA dedicado 100% do tempo a levantar dados sobre o que eles chamam de "potential harmful cults" ou "cultos potencialmente perigosos". O Rick Ross Institute (www.rickross.com) possui uma extensa base de dados sobre diversos "cultos" com muita informação (em ingles). Desta lista, o que me deixa um pouco mais confortado, é que só existem 2 grupos supostamente "budistas".

Portanto, antes de se "atirar" em um grupo, pesquise, se informe, garanto que muitos boatos tem grandes verdades por tras. Se a informação não estiver neste site que indico, dê sempre uma "googlada" e leia o que aparece. 

Veja abaixo as dicas que Rick Ross dá para se identificar grupos "potencialmente perigosos" (fonte: http://www.rickross.com/warningsigns.html) :

Dez sinais de alerta de um grupo/líder potencialmente perigoso:

  1. Autoritarismo absoluto sem responsabilidade significativa.
  2. Nenhuma tolerância para questões ou investigação com críticas.
  3. Nenhuma divulgação de informação financeira clara relativa a despesas, tais como uma declaração de uma auditoria financeira independente.
  4. Medo irracional do mundo exterior, pregação de uma catástrofe iminente, conspirações do mal e perseguições.
  5. Não há nenhuma razão legítima para sair do grupo, antigos seguidores estão sempre errados em sair, são negativos ou mesmo maldosos [por não participarem mais do grupo].
  6. Ex-membros muitas vezes relatam as mesmas histórias de abuso e refletem um padrão similar de queixas.
  7. Há registros, livros, artigos de notícias ou programas de televisão que documentam os abusos do grupo/líder.
  8. Seguidores sentem que nunca podem ser "suficientemente bons" [perante seu líder ou grupo].
  9. O grupo/líder está sempre certo.
  10. O grupo/líder é o caminho exclusivo de conhecer a "verdade" ou a validação da mesmao, nenhum outro processo de descoberta é realmente aceitável ou digno de crédito.

Dez sinais de alerta em relação às pessoas envolvidas em/com um grupo potencialmente inseguro/líder.

  1. Obsessão extrema em relação ao grupo/líder resultando na exclusão de quase toda consideração prática.
  2. A identidade individual da pessoa, o grupo em si, o líder e/ou Deus deixam de ser  categorias distintas e separadas da existência de cada um e a distinção entre eles fica cada vez mais ténue. Em vez disso, na mente do seguidor ,essas identidades tornam-se substancialmente cada vez mais fundidos - conforme o envolvimento dessa pessoa com o grupo/líder se desenvolve e se aprofunda.
  3. Sempre que o grupo/líder é criticado ou questionado, tal ação se caracteriza como "perseguição".
  4. Conversas e maneirismos estranhamente empolados e aparentemente programada mostrando a clonagem do grupo/líder no comportamento pessoal.
  5. Dependência do grupo/líder para resolução de problemas, soluções e definições sem pensamento reflexivo significativo. A aparente incapacidade de pensar de forma independente ou analisar situações sem o grupo ou envolvimento do líder.
  6. Hiperatividade centrada na agenda do grupo/líder, que parece suplantar todos os objetivos pessoais ou interesses individuais.
  7. A dramática perda de espontaneidade e senso de humor.
  8. Aumento do isolamento de velhos amigos e da família, a menos que demonstrem interesse no grupo/líder.
  9. Qualquer coisa que o líder/grupo faz pode ser justificada não importa o quão áspero ou prejudicial a ação represente.
  10. Antigos seguidores são classificados na melhor das hipóteses como pessoas negativas ou na pior delas, como maldosos e sob más influências. Eles não podem ser confiáveis ​​e contato pessoal deve ser evitado.

Dez sinais de um grupo/líder saudável: 

  1. Um grupo de seguro/líder irá responder às suas perguntas sem julga-lo(a) ou puni-lo(a).
  2. Um grupo de seguro/líder, irá disponibilizar informações financeiras e muitas vezes oferecem uma declaração de uma auditoria independente sobre orçamento e despesas. Grupos e líderes saudáveis irão dizer-lhe mais do que você quer saber.
  3. Um grupo/líder saudável é muitas vezes democrático, compartilhando decisões e incentivando a responsabilidade e supervisão.
  4. Um grupo/líder saudável pode ter antigos seguidores descontentes, mas não irá difamar, excomungar e proibir os outros de associarem com eles.
  5. Um grupo/líder seguro não terá uma folha corrida de registros esmagadoramente negativos, livros, artigos e declarações negativas sobre eles.
  6. Um grupo/líder saudável irá incentivar a comunicação familiar, a interação da comunidade e amizades já existentes e não se sentirá ameaçado.
  7. Um grupo/líder saudável vai reconhecer os limites ​​e limitações razoáveis ao lidar com os outros.
  8. Um grupo/líder saudável irá incentivar o pensamento crítico, a autonomia individual e sentimentos de auto-estima.
  9.  Um grupo/líder saudável admitem falhas e erros e aceitam as críticas e conselhos construtivos.
  10. Um grupo/líder saudável não será a única fonte de conhecimento e aprendizagem excluindo todos os outros, mas o incentivará o diálogo e a livre troca de idéias. 

Não seja ingênuo, desconfie sempre de algo que é muito novo, de alguém que fundou "um ramo budista", uma nova "escola", que "resgatou ensinamentos do passado", sempre vai ter algo por trás. Seu melhor amigo nessas horas é o GOOGLE, entre, pesquise, vasculhe!  Cuidado!

10 de maio de 2012

Dia do Nascimento de Buddha - Data Nacional e Oficial

Com grande alegria comunico que a partir deste ano o Segundo Domingo de Maio passa a fazer parte do calendário nacional como o Dia do Nascimento de Buddha com possibilidade de comemorações em todo território nacional.


Matéria sugerida pelo deputado federal William Woo, foi promulgada pela presidente Dilma Roussef e publicada no Diario Oficial da Uniao.  Deputado Woo de familia budista e ligado ao Fo Kwan Shan e Templo Zu Lai, já havia aprovado matéria semelhante em ambito estadual em São Paulo, quando deputado deste estado.


Um dia histórico para nós budistas brasileiros.

Clique aqui para ver o decreto publicado no D.O.U

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8 de maio de 2012

Materialismo Espiritual Vergonhoso

Ontem mesmo havia lido esta matéria no Estado de São Paulo sobre o exemplo de compaixão que os estrangeiros andam dando na China., segundo a reportagem, país este cujos habitantes não ligam para os problemas alheios, esquivando-se do auxílio de desamparados nas ruas ou em situações de emergência.

Pois bem, nosso país não está nem um pouco longe disso e vivi isso na pele hoje.  Indo trabalhar vejo um rapaz demaiado na calçada. Bem vestido, de calça jeans nova, tenis de marca, camisa pólo. As 10 horas da manhã.  Claro que havia um problema ali e na calçada de uma rua movimentadíssima, caminho de muitos executivos para seus escritórios e mães levando crianças para a escola. Pela posição do rapaz, deveria estar ali há algum tempo e absolutamente ninguém parou para acudi-lo!!!!

Parei o carro imediatamente, desci e fui tomar o pulso do rapaz, completamente desacordado, pulso fraco, não respondeu a nenhum estímulo. Então vi uma moto da polícia, a qual parei e relatei o que tinha visto e chamamos uma ambulância.  Neste instante então param outros para ver, para dar palpite e os 3 homens em um bar em frente então vem dizer que "não sabiam o que fazer". "Chamaram uma ambulancia?", se fizeram de desententidos.

Passados uns 10 minutos, o rapaz esboça reação. Responde minhas perguntas com a cabeça, desperta aos poucos. Claramente, tinha problemas mentais e era mudo, não conseguia se comunicar direito e não conseguia explicar o que tinha acontecido. No máximo 21 anos. Devia morar por ali e teve um mal subito, poderia ter aberto a cabeça e sangrado até morrer, ou se atravessava a rua, poderia ter morrido atropelado.

E quem parou? Ninguém!!!!! NIN-GUÉM!!!!!! Quantos carros na frente do meu passaram ali 10 minutos antes de mim? 40? 50? E ninguém tem a decência de acudir um semelhante? Quantos dessas no mínimo 150 pessoas que passaram por este coitado se gabam de ter um caminho espiritual em seus domingos de cânticos e desejos de paz?

Amigos, nossa espiritualidade não estão nos templos, não estão nas nossas preces, mantras, meditação ou recitações do nome de Buddha.... nossa espiritualidade não está no estudo dos sutras, bíblias ou textos sagrados... nossa espiritualidade não está no dana, nas doações, ou na pose de samaritano nas creches e asilos... nossa espiritualidade não está na invocação de um deus, nem na conversão de outrém ou na salvação alheia....

NOSSA ESPIRITUALIDADE ESTÁ NA COMPAIXÃO COM O PRÓXIMO! ALI, TÃO SIMPLES QUANTO ESTENDER A MÃO PARA QUEM CAI! TÃO SIMPLES QUANTO ACUDIR UM IRMÃO.

Por todos os Buddhas e Bodhisatvas de todas as eras e direções, onde estamos? Somos todos materialistas espirituais imbecis que não damos a mínima aos problemas alheios em prol dos nossos próprios, mas estamos nos templos e centros de Dharma recitando sutras, sadhanas e mantras... ora, ora, ora...

Desculpem o desabafo, mas foi um dia de indignação....

Deixo aqui um conto Zen para que reflitamos....

"Dois monges caminhando por uma estrada avistam um escopião se afogando em um poça d'água. Um dos monges se agacha e retira o escorpião da poça, tomando uma ferroada.  O escorpião então volta para a poça e passa a se afogar novamente. Então, novamente o monge o retira e o coloca mais longe, não sem antes tomar outra ferroada que lhe provocava uma dor lascinante. Sem esperar, o escorpião volta para a poça e incessante o monge o retira novamente e leva para um terreno seco, sem chance de retorno. Com isso tomou mais algumas ferroadas deixando sua mão inchada e uma dor incrível o dominou. Desesperado o outro monge corre ao encontro do seu parceiro, perguntando: "Por que continua tentando salvar este animal sabendo que ele vai voltar para a poça e ainda irá lhe ferroar toda vez?".  Diante disso o monge se contorcendo de dor responde: "Caro amigo, a essência do escorpião é ferroar quando se sente ameaçado. A minha essência é salvar todos os seres!"

Namo Amida Butsu!

7 de maio de 2012

Pessach e Budismo

Com muito atraso, venho aqui narrar brevemente um evento no qual participei que me marcou muito: meu primeiro pessach judaico!

A princípio pode parecer estranho um "budista militante" como eu, declarar isso, mas é fato que há muito anos tinha curiosidade de participar desta celebração.  Sempre gostei de estudar religiões e a judaica me chama muito a atenção pela quantidade de simbolismos e algumas fortes semelhanças com o Budismo.

Neste ano uma amiga nos convidou para a festa.  Nada mais que a festa mais familiar que o judaísmo comemora e uma das mais fortes em sua tradição por justamente recontar em uma noite a afirmação definitiva do "povo de Israel" como unidade, como uma tribo e futuramente um país.

Durante a celebração, que é especialmente ajustada para que as crianças participem e entendam suas origens, as várias passagens citadas na Torah sobre a saída dos judeus do Egito é narrada e representada pelas comidas servidas.

Por ter sido o único homem adulto na celebração caseira, ficou a meu cargo a condução da cerimônia, como dita a tradição hebraica, o que fiz com orgulho e posso dizer que em muitos momentos, com os olhos cheios d'água e a voz embargada.  Seguir o simbolismo dos alimentos, a narração dos acontecimentos, a pequena aula de Torah que se prepara para as crianças e por fim o convite à vida e à liberdade que se encerra foi um momento que ficará marcado em todos.

O que mais me tocou é que o judaísmo é muito mais que uma simples religião, é algo de DNA que está no sangue daqueles que o seguem e ao mesmo tempo, uma religião tradicional que preza pelo respeito e pela compaixão.

O simbolismo nos remete ao simbolismo do Budismo, onde cada objeto e posição do mesmo tem um sginificado, bem como as cores e os alimentos.  Símbolos este que sempre fazem nos lembrar da condição humana, dos sofrimentos, das alegrias, da superação dos obstáculos, da purificação do mundano para o metafísico.

No fim, entendi cada vez mais a frase de Sua Santidade, o Dalai Lama: "O mundo não precisa de mais budistas, precisa de mais Budas, venham da religião que for!" e acho que essa é a essência dos verdadeiros budistas: não vilipendiar as doutrinas alheias e buscar a união e a paz entre todas elas.

Desta forma, cada vez mais quando vejo alguém dizendo que é "dono do Verdadeiro Budismo" e tenta denegrir tradições seculares do Budismo com ensejos financeiros e espúrios, ou mesmo, criticar as demais religiões tradicionais de maneira proselitista para angariar adeptos financistas para sua causa brancaleônica, a vontade que tenho é de simplesmente contemplar a ação e esperar o karma agir, porque a volta dessas ações, no meu ver, serão arrasadoras.

Assim, amigos budistas e não-budistas deixo com vcs algumas palavras do monge Rennyo Shonin em sua Epístola 14 chamada de "Não Vilipendiar as Doutrinas Alheias" que embora tenha sido escrita falando das diversas escolas Budistas de sua época, pode e deve ser ampliada para as demais religiões.  E quando tiverem chance, conheçam outras tradições religiosas, cada uma delas tem seus Budas. Namo Amida Butsu!

Em suma, entre os praticantes do Nenbutsu de nossa Escola, há que não vilipendiar as doutrinas alheias. Em primeiro lugar, considerando as Províncias de Etchû e Kaga, temos Shirayama, Tateyama e outros tantos templos nas montanhas. Já em Echizen, temos os Templos Heizen, Toyowara e outros. Assim, já no Grande Sutra da Vida Imensurável existe uma advertência contra isso: São excluídos apenas os culpados das Cinco Faltas Capitais (1) e aqueles que vilipendiam o Correto Dharma. Isso nos revela que os praticantes do Nenbutsu não devem vilipendiar as demais doutrinas. Além disso, também os sábios das diferentes escolas do Caminho dos Ascetas advertem que de maneira alguma se deve vilipendiar os praticantes do Nenbutsu. São muitas as provas textuais encontradas nos Sutras e nos Comentários. Temos, em primeiro lugar, a severa advertência que o Bodhisattva Nagarjuna, Patriarca das Oito Escolas (2), nos faz no Tratado da Grande Perfeição da Sabedoria. Assim diz o texto: Mesmo o praticante que observa os Preceitos não escapará das penas infernais se, por amor a seu próprio Dharma, vilipendiar as doutrinas alheias. Tais determinações tão claras se fundamentam no fato de que todas as doutrinas foram pregadas pelo Buda. Não vamos incorrer no erro de vilipendiá-las. Todas são escolas válidas, o que ocorre é que apenas não recorremos a elas. É, pois, extremamente lamentável que, em nossa linhagem, pessoas sem discernimento aviltem as demais escolas. Os monges líderes de templos que incorram nessa falta, certamente deverão ser punidos. Salve! Salve!
9º mês do 5º ano da Era Bunmei (1473)
Epístolas de Rennyo, I, 14
 [1] As chamadas Cinco Faltas Capitais são as seguintes: 1 - matar o pai; 2 – matar a mãe; 3 – matar um Mestre; 4 – perturbar a harmonia da Comunidade Budista; 5 – derramar o sangue de um Buddha.


12 de abril de 2012

Aborto do Anencéfalos e a Corrupção no Brasil


Assunto delicado mas em pauta esta semana pelo país: o aborto de fetos anencefálicos. Não podemos de maneira alguma colocar todas as visões religiosas em uma mesma cesta. Não podemos atribuir a todas as denominações espirituais as mesmas opiniões. Se uma parte dos cristãos é contra tal ato, o Budismo em si, não se estrutura para condená-lo.

Ora por que? Pelo fato de que o cerne de nossa religião é a Lei da Causa e do Efeito e só isso já seria o suficiente para dizer que CADA UM É DONO DA SUA VIDA e faz com ela o que bem entender, pois o resultado de suas ações irá recair sobre ela própria. Ou seja, ninguém gera karma para ninguém, só para si próprio e na mesma direção, ninguém extingue karma para outrém além de si. Então, não cabe a uma denominação religiosa tentar legislar em causa alheia, cabe a uma religião o simples fato de orientar e não tentar inescrupulosamente ingerir nas leis de um país laico. O máximo que pode fazer é emitir uma opinião, de preferência bem embasada, ao seus fiéis em um âmbito aberto a debates e discussões.

Se a própria medicina define que a vida depende da presença da atividade cerebral, quando o elemento principal desta definição, o cérebro, não existe, então não há vida. E estou usando a ciência para definir isso pois nenhuma religião pode afirmar se isso é verdade ou não, absolutamente nenhuma e como disse Sua Santidade, o Dalai Lama: "O Budismo deve ficar atento às pesquisas científicas, pois se a ciência descobrir algo que vá contra os princípios budistas, o Budismo terá que mudar". Logo, é nisso que temos que nos basear, pois jogar dogmas em cima desta discussão nada mais é que levantar uma cortina de fumaça para tentar esconder a lógica e a seriedade do assunto.

Bem, só o citado acima já seria suficiente porém no caso específico dos "anencefálicos" temos ainda o viés da dor, do sofrimento, da angustia e da ansiedade da mãe principalmente e de outros entes queridos por esta. Para nós budistas se tivéssemos que definir o Budismo em uma única frase, supostamente seria: "a religião que tem como objetivo cessar o sofrimento dos seres sencientes". Iluminação, paz da mente, compaixão é tudo consequência direta do objetivo escrito. Então, sofrimento supõe consciência, pensamento.

"Seres SENCIENTES" eu disse.... aqueles que sentem e sentir depende de um sistema nervoso, logo em uma ação destas, o único ser que vai sentir é a mãe, o único ser que vai carregar um fardo angustiante para o resto da vida é a mãe, pois terá que enterrar um filho praticamente nati-morto. Terá que passar por toda a gravidez sabendo que os 9 meses de gestação serão em vão e que terá que carregar o resultado desses meses para o resto da vida, dando nome para o feto ser registrado tanto na certidão de nascimento como na de óbito que serão praticamente expedidas simultaneamente. Resultado de carregar um caixão minúsulo debaixo dos braços e vê-lo descer à sepultura. Realizar os ritos fúnebres no dia, 7 e 30 dias depois... ora ora ora... o que é isso? Onde está nossa compaixão? Para que??? Para que destroçar o coração de uma mãe que poderia sair mais fortalecido para então gerar um ser completo na próxima gestação? Um ser completo que este sim traria alento a toda a família, brontando a alegria que toda criança traz.

A cada manifestação religiosa que vejo contra o ato de abortar fetos anecefálicos, sinceramente penso que muitos líderes religiosos não estão preocupados com o bem estar de seus seguidores, estão apenas preocupados em manter pilares instáveis de estruturas abaladas, cimentadas pelo sofrimento humano. Lamentável.

Ah! Por que citei a corrupção de nosso país no título? Ora, porque não vejo esses líderes se manifestarem com a mesma veemência contra essa vergonha que nos assola há tanto tempo. Se gastássemos nosso tempo nos indignando com a corrupção corrente no país que faz com que dinheiro de educação e saúde escorra aos baldes pela latrina política brasileira, seríamos, sem dúvida, um país sério!

Namo Amida Butsu!

11 de março de 2012

As Mulheres no Budismo

Para homenagear as mulheres nesta semana que se comemorou seu dia, reproduzo aqui o texto da "quase" :) reverenda Shaku-ni Tyô-Juni (Sayuri Sakane Bronzeri) do Templo Higashi Honganji de Apucarana:

"Qual o papel das mulheres dentro do Honganji? apesar da aparente limitação de ser mãe, esposa ou filha de monge, a mulher detêm um importante e imprescindível papel dentro do Budismo. O príncipe Sidarta, logo após seu nascimento, perdeu sua mãe, que faleceu ao dar à luz aquele que posteriormente veio a ser chamado de O Buda. O príncipe foi criado por sua tia, Mahaprajapati, a primeira monja na longa história da trajetória do Budismo. Ela foi ordenada pelo próprio Buda que a princípio era contrário à idéia da Ordenação de mulheres, querendo poupá-las de uma vida difícil de mendicância, restrições, preceitos rígidos e peregrinações. Até que seu discípulo Ananda intercedeu por elas e o Buda concordou em ordenar sua tia e mais 500 mulheres que a acompanhavam em seu intento.
Dentro da história do Shin Budismo, o Mestre Shinran também perdeu a mãe muito cedo, o que certamente apressou muito o seu ingresso na vida monástica. Mais tarde, ao desposar Eshin-ni, quebrou com a tradição do celibato entre os monges. Eshin-ni surgiu na vida do Mestre Shinran quando este encontrava-se em exílio na longínqua região de Echigo, centro-norte do Japão. Mais tarde após o falecimento do Mestre Shinran em 1262, sua filha Kakushin-ni foi responsável pela doação das terras onde foi construído a pequena capela hexagonal. Situada em Ôtani, no sopé da colina Higashiyama, ali foram depositados os restos mortais de Shinran e entronizada sua imagem. Era chamado o Pavilhão do Ícone Sagrado ou simplesmente Mausoléu. E os descendentes de Kakushin-ni, até os dias atuais, são os responsáveis em residir no local, cultuar a imagem e zelar pelo pavilhão. Assim foi o início do Honganji.

Atualmente as mulheres no Honganji detém em igualdade de direitos e deveres, a responsabilidade de dar continuidade à expansão dos Ensinamentos do Budismo. Nós mulheres somos representadas por predecessoras de um valor inestimável, cuja dedicação, apoio, respeito, dignidade, inspiração e fé, seja na figura de seus pais, maridos ou filhos, foram impulsionadoras, mantenedoras e a força-matriz do Budismo. Dedico aqui toda a minha veneração, profundo respeito e admiração a essas mulheres: Rainha Maya, Mahaprajapati, Eshin-ni, Kakushin-ni e todas as Bon-mori (literalmente: aquela que vela e protege o monge, o templo e consequentemente os Ensinamentos e o Sangha), em seu relevante papel de conciliadora da vida mundana e cotidiana com a vida religiosa e sagrada.

Namu Amida Butsu 南無阿弥陀仏

Sayuri Sakane Bronzeri ( Shaku-ni Tyô-Jun) em 08-03-2012

5 de março de 2012

Não sou compassivo!

Na última semana estive no Higashi Honganji com um amigo para recitações do Shoshinge e Amida-kyo (Sutra de Amida) como preparação para a nossa ordenação que se tudo der certo ocorrerá em breve.

Conversando com Monge Atsunori Imai, discutimos um texto publicado em um jornal da ordem nos EUA no qual um dos monges falava sobre duas experiência que tinha tido no mês anterior. Uma delas se referia a sua mãe que sempre dizia que não queria morrer de aneurisma cerebral, porque se inválida, teria que depender do marido e de outros familiares para viver. Conclusão: ela morreu de cancer, sofrido, depois de poucos meses de luta. Por outro lado, o monge conheceu um casal cujo marido estava na cadeira de rodas devido a justamente um derrame. E o obosan perguntou a esposa como era a vida dele agora, já que dependia dela para muitas coisas. Ela disse que a vida era muito melhor agora, pois o marido estava em casa, estava mais calmo, fazia as coisas com paciência e a ouvia mais. Conversavam mais, passeavam mais. De certo modo, ela disse que a doença do marido veio para melhorar a vida de ambos, embora as dificuldades de locomoção do mesmo.

Isso mostra como podemos ver a realidade de formas tão diferentes e tão antagônicas, de modo a alterar a realidade completamente. A nossa interação com o mundo faz realmente o mundo mudar, pelo menos da maneira que o vemos e julgamos.

Há muitos anos, em Campinas, enquanto traduzia uma palestras de um monge tibetano, me lembro claramente uma de suas passagens: "veja sempre uma situação por vários ângulos, afinal é impossível que ela seja ruim por todos eles!". Um exercício tão simples, mas temos tanta preguiça, não é mesmo?

Neste texto o monge prossegue dizendo que na mesma semana pegou um avião para visitar um templo em outra cidade nos EUA e ao seu lado um jovem inquieto, o irritava. Com 15 ou 16 anos o rapaz jogava um videogame portatil incessantemente e com isso "disputava" o espaço do apoio do braço com o monge. Acabado o interesse no jogo ele foleava as revistas sem parar e depois ficava mudando os canais do monitor de vídeo sem demonstrar interesse. O monge então resolveu conversar com o rapaz, pois achava que seria a melhor maneira deste parar um pouco de se mexer.

Iniciada a conversa o rapaz contara que estava voltando com a irmã sentada na fileira da frente dos funerais de seu pai que havia morrido alguns dias antes de acidente de carro. Muito apegados embora vivendo longe pelo divórcio, ele contou várias coisas que fizera junto com seu falecido pai e o que gostaria de ter feito. O jovem nitidamente sofrendo com a situação falou quase todo o restante do vôo sobre o pai e sobre como este lhe faria falta. Terminado o vôo o rapaz saiu rapidademente do avião com a irmã e o monge ficou muito envergonhado do que havia pensado e como pensara sobre a atitude anterior do jovem.

Ele se sentiu envergonhado de ter pensado em si próprio somente, de não ter tentando entender o que passava na cabeça do jovem, ou simplesmente por tê-lo julgado tão rapidamente. Ele então se deu conta que seu sentimento de vergonha piorou as coisas, pois afinal ele era um monge e poderia ter tentado confortar o menino com algumas palavras que não saíram de sua boca, justamente por estar contrangido. E pior, nem o telefone do rapaz ele pegou para pelo menos ligar mais tarde e tentar confortá-lo.

Com isso, ele passou a entender que "posamos" de compassivos, que nossa "compaixão" não passa de "materialismo espiritual" como diria Chogyam Trungpa. Nos achamos sempre melhores que os outros, mais bondosos, mais solidários e altruístas, mas no fim, no fim mesmo, só pensamos em nós mesmos, só estamos preocupados com nossa imagem de compassivos, com o que os outros irão pensar de nós, é o que Freud chamou de "pacto social". O pacto que fazemos com o espelho para que definamos a imagem que queremos que a sociedade tenha de nós.

Camuflamos nosso egoísmo com atitutes sem lastro espiritual, com pensamentos calculistas e palavras adoçadas por uma ética artificial, somente para que o outro nos elogie e aliemente mais ainda nosso ciclo vicioso de apego, raiva e ignorância dentro da Roda da Vida.

Adianta lutar contra isso? Não. É mais forte que nós. É dito que Jigoro Kano, criador do Judo moderno, um dia olhava pela janela e viu a neve se acumulando um grosso e pesado galho de árvore. Quando este não mais suportou o peso da neve que se acumulava, quebrou e espatifou-se no chão. Contudo, o galho ao lado, fino, frágil e elástico, quando se sobrecarregou de neve simplesmente envergou para o chão, fazendo a neve cair e voltou à sua posição original.

Lutar contra o ego é ser o galho maior, vamos terminar quebrando com tanta neve. Temos que nos tornar o galho menor e eliminar a neve aos poucos com habilidade. Portanto, um olhar compassivo, um silêncio compassivo é mais puro e eficiente que uma atitude sem fundamento, mas mesmo assim ainda difícil de se gerar.

Dessa forma me recolho aos ensinamentos de Shinran Shonin que nos afirma que todos estamos no Nirvana, na Terra Pura. Temos só que saber confiar, confiar uma única vez de maneira pura e desapegada. Isso feito, a Terra se tornará Pura e todos veremos a realidade como ela é.

Namo Amida Butsu!