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Por isso esse blog possui esse nome... Jigoku No Sora,
o Teto do Inferno

"Esse eu insensato, que tem tão pouca chance de salvação, é totalmente incapaz de resistir a desejos intensos e comprometimentos, a essa sucessão de dias e noites, inegavelmente reais, passada sob o constante tormento das ilusões monstruosas; isso é o inferno." - Hiroyuki Itsuki

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12 de maio de 2013

Nara, Todaiji e alguns protetores

Acordamos cedo. O Todaiji em Nara nos esperava. Tendo um Buddha de 10 andares lá dentro e sendo um prédio que está lá há 1200 anos, sem dúvida um local a ser visitado.

Acordamos as 4 horas da manhã mas não por empenho, mas por fuso horário mesmo! Pegamos o trem lá pelas 7:30hs e pouco mais de meia hora depois chegamos na pequena Nara e após uma pequena parada no supermercado para comprarmos chá verde gelado e ficar perplexo diante de tanta opção, saímos caminhando alguns poucos quarteirões.

Subimos por uma avenida junto com muitos turistas e paramos em alguns antiquários para apreciarmos artigos budistas. Reforço: apreciarmos, comprar, impossível! Falarei mais para frente sobre o "handcraft" japonês.

A rua até que estreita na qual se chega ao templo tem lojas de um lado e barracas de comida do outro e ambos os lados estavam bombando desde cedo. O odor agradável de lula e polvos sendo grelhados, junto com broto de bambu e takoyaki (pequenos bolinhos de polvo) era inebriante mesmo na manhã tão cedo.

Mais alguns passos e então o gigante aparece. Altivo, sólido como um monolito de aço forjado por avatares, estava o portal do Todaiji. Meu amigo, Jean Jacques sabia o que iria acontecer a seguir, mas não me disse nada. Ele sabia do meu encanto para com os "dharmapalas", os protetores do Dharma, que dentre outras funções, protegem os templos e seus ensinamentos. E, lhes digo, no Japão, os "niô" são levados a sério, sendo literalmente o maior exemplo, o portal de entrada do Todaiji!

Quando ía passando pelo portal, olhei para o lado direito e me deparo com uma estátua de um niô, o Ungyo, com pelo menos 8 metros de altura. Seus musculos todos retesados, mãos aberta prontas para agarrar o adversário e uma clava na mão esquerda. Toda a estátua tinha movimento, suas vestes, seu cabelo em rabo-de-cavalo, menos seu corpo.  Nada no universo poderia mover-lo. Parei, boquiaberto, arrepiado, vislumbrado. Literalmente olhei aquela estátua do fio de cabelo a unha do pé e a única vontade que tinha era ficar ali para sempre, contemplando aquela maravilha. Então, me lembrei de Suzuki Shosan, o qual conheci pelo trabalho do meu irmão no Dharma, Rev. Prof. Dr. Ricardo Mário Gonçalves. Shosan um samurai que se tornou monge, usava as poses dos nyo como inspiração para meditação. Nessa hora, o Jean me toca o ombro e diz: "Vira para trás!". Foi aí que me dei conta que eu tinha virado somente para o lado direito e um frio me correu a espinha quando lembrei que Ungyo sempre tinha um aliado... Agyo! E me virei lentamente, antevendo o que me esperava. Se de frente a mim estava Ungyo, oposto a ele estava seu companheiro... clava levantada e apoiada no ombro direito, mão esquerda aberta como se parasse o adversário e boca aberta como se gritasse para que o planeta inteiro ouvisse, um grito surdo, mas imóvel, sólido, plantado, como se pudesse dessa forma agarrar e parar o planeta inteiro.

Não me contive. Fiz uma reverência profunda a ambos e olhei-os nos olhos para sentir aquela energia marcial que ambos passavam. Aí entendi porque eram guardiões, não pela força ou pelas armas, mas pelo olhar... o olhar de um niô é assustador, mas ao mesmo tempo acolhedor, pois quem se assusta é o despreparado, o fútil, o que chega sem propósito. Mas aquele que chega seguro, de coração puro e aberto, os niô abrem as portas e lhe protege.





Ungyo

Agyo



















Tem mais Todaiji... aguentem aí...


Para saber mais sobre niô: http://www.onmarkproductions.com/html/nio.shtml

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